Marcelo Moya
Se levarmos em consideração as fases de desenvolvimento de um ser humano, podemos definir uma criança como uma pessoa de pouca idade, que compreende a fase de recém-nascido até a puberdade com suas transformações físicas, biológicas e psicológicas. No Brasil, é considerado criança até os 12 anos, embora algumas convenções internacionais definem o infante como todo menor de 18 anos.
Em 12 de outubro comemora-se o Dia das Crianças, celebrada no Brasil desde meados da década de 20 do século passado, e que mais tarde ganhou relevância graças a uma campanha de marketing realizada por uma famosa fábrica de brinquedos, que para alavancar a venda de seus produtos, promoveu uma semana da criança que veio a ser incorporada no calendário de comemorações nacionais.
A psicanálise é tanto um método de exploração do inconsciente (aspectos latentes de nosso ser), que quando bem-sucedida restaura a nossa personalidade e nos aproxima da pessoa que fomos quando nosso desenvolvimento ficou comprometido, como afirma o psicanalista britânico W.Bion (1897-1979), mas é também um amplo campo de teorias para pensar o mundo, a cultura, as relações humanas e as inquietações da alma. E justamente por estas dimensões teóricas que o tema do infantil ganhou relevância como modelo das mais variadas construções psicanalíticas.
Dentre seus principais teóricos, Sigmund Freud (1856-1939) estudando o adulto, descobriu a criança de todos nós, da mesma maneira, Melanie Klein (1882-1960), que ao se dedicar em sua clínica infantil, foi observando a criança que descobriu o bebê dentro delas. E Donald Winnicott (1896-1971), graças a sua experiência de pediatra, dedicou-se com afinco no universo da criança, deixando valiosas contribuições acerca de atenções essenciais no processo do desenvolvimento emocional infantil.
Mas afinal, o que é uma criança? Embora cada consideração abaixo explicitada merece uma discussão bem mais pormenorizada, técnica e profunda, é sobre este espectro de penumbras associativas percebidas pelos saberes da metapsicologia que gostaríamos de destacar pelo menos três considerações dentre tantas outras possíveis, e que podem nos ajudar a ampliar nossas formas de compreensão sobre este maravilhoso, porém complexo, mundo infantil.
" ...lamentavelmente se observa na sociedade é o drama de muitas crianças adultilizadas
ou precocemente estimuladas a isso...."
Em primeiro lugar, precisamos ter em mente de que crianças não funcionam no mesmo padrão dos adultos. Os aspectos físicos, biológicos e psicológicos definem singularmente suas necessidades, convívio e formas de tratamento. Mas o que lamentavelmente se observa na sociedade é o drama de muitas crianças adultilizadas ou precocemente estimuladas a isso. Devemos tratar crianças como crianças, não lhe imputando a elas um peso de algo que ainda não são, mas dando-lhes pavimento adequado para se tornarem no futuro, adultos maduros e socialmente responsáveis.
Em segundo lugar, as crianças são vidas que necessitam do suporte adequado dos adultos para sobreviver e se desenvolver. Falhas neste processo poderão incorrer em sérios transtornos emocionais, distúrbios de personalidade, problemas de aprendizagem e até mesmo delinquência. A criança necessita de condições básicas para crescer saudável, bem como do acolhimento afetivo de seus cuidadores, algo crucial para se tornarem mais seguras e aptas para enfrentarem os desafios da vida.
E por fim, crianças são seres que precisam brincar e adoram fazer isso com os adultos. Quando nos lembramos do Dia das Crianças, logo pensamos em presentes, principalmente brinquedos, objetos do desejo infantil. Dar presentes tem sua relevância e significado, e mais do que isso, crianças precisam ser estimuladas a brincar, não apenas sozinhas ou com outras crianças, mas a interação com os adultos também é importante. Criança que não brinca, não se desenvolve. E a interação com os adultos também imprime marcas profundas no processo de organização psíquica delas.
A data comemorativa já passou, mas as crianças seguem trazendo alegria e esperança aos nossos lares e o mundo, sem nos esquecermos de uma outra criança muito especial, a criança que já fomos um dia e que se perpetuou dentro de cada um de nós em nossas memórias e reminiscências, formando os fragmentos infantis que diariamente alimentam os sonhos como expressão mais fiel de nossos desejos.
E como escreveu o saudoso poeta Paulo Leminski: “ - Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança: estar sempre alegre, nunca ficar inativo e chorar com força por tudo o que se quer. ”
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Marcelo Moya é psicanalista, membro docente do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise. Apresenta todo sábado às 14h na Rádio Cidade FM de Jacarezinho 104,9 o Programa Eu & Você. Informações: www.marcelomoya.com.br