26/12/2021 às 00h42min - Atualizada em 26/12/2021 às 00h28min

COMO VOCÊ SE SENTE NAS FESTAS DE FINAL DE ANO?

É o ano que se finda e não a sua história!

Marcelo Moya

Marcelo Moya

Psicanalista, membro do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise.

Marcelo Moya
Marcelo Moya

Em clima de pós-pandemia, evidentemente ainda se valendo de todos os cuidados, chegamos em mais um mês de comemorações natalinas e a passagem para o novo ano, e que normalmente são propícias para desencadearem uma carga substancial de emoções e sentimentos em todos nós. Mas afinal, como você se sente nestes momentos de final de ano?

Em tons eufóricos e em alguns casos até exagerados, as celebrações de dezembro se coadunam com os ideais de felicidade, prosperidade e paz. Para muitos, é um momento para deixar os problemas de lado e apegar-se à circunstâncias regadas à muita fartura, encontro com familiares e amigos, passeios, viagens, presentes e tudo mais o que a criatividade permitir. 

Mas o fim de ano também poderá produzir um clima emocional muito distinto e propício das demais épocas do ano e despertar as mais paradoxais emoções e sentimentos, em certos casos negativamente, como acontece com pessoas que ficam deprimidas, desenvolvem crises de ansiedade ou desejam declinar da vida justificando-se do pesadelo das datas festivas.

Neste caso, o final de ano pode ser um termômetro para mensurar os contrastes sentimentais, tais como a alegria e a tristeza, a saudade e a nostalgia, a esperança e a desilusão, a expectativa e a frustração, a indiferença e a compaixão, a fé e o ceticismo, enfim, uma lista incomensurável.
 
"...experiências emocionais e afetivas são determinantes na qualidade de vida e nas relações interpessoais ..."

Considere-se os aspectos contextuais e subjetivos, ou seja, se tudo estiver bem conosco, celebramos jubilosamente sem maiores obstáculos,  mas se o momento não é proprício ou algo vai mal, a tendência é refutarmos as razões para festejar e ceder lugar às queixas, ao isolamento e à solidão.

E o que é emoção e sentimento? Para o neurologista português Antonio Damásio, emoção está ligada aos instintos, sendo o que nos torna singulares entre as espécies. A palavra ‘emoção’ da raiz ‘emovere’ tem a ver com movimento, sendo algo essencial à vida, afinal, todos somos regidos pelas emoções.

O psicoterapeuta norte americano Paul Ekman, especialista no estudo de emoções, as define como um complexo conjunto de reações químicas, neurológicas e físicas que visam a sobrevivência do indivíduo, além de forte impacto na vida mental.
 
Neste caso, as experiências emocionais e afetivas são importantes no âmbito da qualidade de vida e nas relações interpessoais, evidentemente podendo resultar em muitos benefícios para a vida mental, ou ao contrário, desencadear efeitos colaterais de proporções mais austeras.

Medo, raiva, alegria, tristeza, ódio, inveja, amor são algumas das emoções básicas. Operam em nível inconsciente, o que difere do sentimento, de dimensões mais conscientes. Se a emoção é automática, inconsciente, instintual, impulsiva, corporal, o sentimento é a percepção consciente destas respostas emocionais que se ligam ao mental, ou seja, ao pensamento e ao sensorial.
 
"Sempre haverá algo mais em nosso mundo mental para além da euforia festiva ..."

Sempre haverá algo mais em nosso mundo mental para além da euforia festiva. Mas como expressar isso com sinceridade diante destes momentos que sempre nos exigirá um sorriso no rosto e uma aparência de felicidade? Como bem escreveu a poetisa Adélia Prado, “... ao encontrar palavras para narrar minha angústia, já consigo respirar.” 
 
Se ao nos regalarmos à comida e à bebida, quem sabe para se distrair um pouco de coisas que nos incomodaram o ano todo, no dia seguinte, absortos de uma amarga ressaca e de indigesto mal-estar, poderemos recorrer de receitas caseiras às soluções farmacêuticas para aliviar-se dos desagravos.
 
O mesmo não se pode dizer quando o assunto é digerir as coisas que ocupam lugar em nossa mente, o que requer um trabalho psíquico para poder pensar, transformar e ressignificar as experiências e sentimentos mais angustiantes e dolorosos
. Isso é possível pela análise, ou seja, se o momento é de celebrar mas os pensamentos persistem incomodar, o divã pode ser o melhor remédio.

Nesta época, evite cair na armadilha da ilusão e da onipotência, virada de ano não quer dizer que a sua vida vai mudar como numa passe de mágica, da mesma maneira é o ano que se finda, e não a sua história. Mente saudável é o
lhar para frente e seguir adiante, com esperança e perseverança para sair da zona de conforto e tentar mudar a própria realidade, pois "hoje pode parecer difícil, mas a recompensa por todo esse seu esforço está a caminho... a subida cansa, mas a vista sempre valerá a pena!"

Que o novo ano venha repleto de fortes emoções, mas sem nos adoecermos delas. E como cantou Roberto Carlos, “...se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi...”

Boa festas!

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Marcelo Moya é psicanalista, membro do Ékatus Instituto da Escola Paulista de Psicanálise onde também é docente e tutor no programa de formação e cursos de extensão. Sessão de análise, espaço de escuta, cursos e palestras. Atendimento presencial e por videoconferência. Apresenta aos sábados, 1 da tarde na Rádio Cidade FM 104,9 de Jacarezinho/PR, o programa Eu & Você. Informações e contatos pelo site: www.marcelomoya.com.br. 

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