01/05/2022 às 17h47min - Atualizada em 01/05/2022 às 17h32min

O TRABALHO DÁ TRABALHO DEMAIS...

... mas sem ele não se pode viver!

Marcelo Moya

Marcelo Moya

Psicanalista, membro do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise.

* Marcelo Moya

No dia 1 de maio de 1886 na cidade de Chigago (EUA), uma greve que havia paralisado as indústrias locais desencadeou uma onda de manifestações que resultou numa explosão na praça Haymarket onde os manifestantes se concentravam, matando sete pessoas e ferindo dezenas de outras, o que intensificou um revide de violência entre entre policiais e grevistas e consequentemente em novas vítimas e feridos nos dias que se sucederam.

Posteriormente a data se transformaria num símbolo das lutas dos trabalhadores pelos seus direitos em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, cujo movimento que já se espalhava desde a instalação da República, passando pela grande greve de 1917 em São Paulo, até que em 1924 o então presidente Arthur Bernardes torna oficialmente o primeiro de maio como dia alusivo ao trabalhores e, portanto, legalmente um feriado nacional.

O trabalho dignifica o homem, alega o senso comum. É condição fundamental ao indivíduo para seu sustento de maneira digna e honrosa, embora há uma leitura imprecisa da gênenis judaico-cristã ao considerar o fato de que comer o fruto do suor do trabalho fosse um modo de punição por desobediência divina, ou ainda pela própria etimologia da palavra trabalho, do latim 'tripalium' uma máquina de tortura dos romanos aos escravos. Na psicanálise, a expressão está ligada à elaboração das experiências emocionais, um modo de processar as coisas que sente durante a sessão.  

Traablhar é uma condição essencial de todo ser humano, que vai além da sobrevivência, pois implica em capacidade de realização, sentimento de utilidade, produtividade, e o desenvolvimento da pessoa e de sua personalidade como marcos substanciais na formação de sua identidade e de sua inserção social, moral, ética e cidadã.

Trata-se de um tema que abre muitos vértices de reflexão, alguns inclusive bem inquietantes como a exploração humana, o trabalho infantil, injustiça, condições precárias do ambiente de trabalho, desiguladades frente a oportunidades, jornada excessiva ou mesmo o ócio coletivo pelo desemprego  com seus desdobramentos sociais como o crescimento da informalidade, a privação familiar e a violência urbana.

Em tempos mais recentes, a saúde mental também vem ocupando espaço na pauta de preocupações em torno da qualidade de vida do trabalhador. Depressão, síndrome do pânico, transtornos e ansiedade e de Bournaut (esgotamento), atestam que trabalhar não deveria ser sinônimo de sofrimento e adoecimento, e sim de prazer e contentamento, pois, o melhor seria poder fazer aquilo que gosta e gostar daquilo que faz.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), questões como a elevada competitivade, estresse, pressões, assédio moral, insatisfação com a profissão, desvalorização, baixa produtividade, desinteresse pela carreira e jornada excessiva, por exemplo, rementem para uma estatística de que uma a cada cinco pessoas padecem de algum sofrimento psíquico relacionados ao trabalho e com danos diversos ao indivíduo e a sociedade.

A OMS alerta que o impacto do adoecimento mental entre trabalhadores anualmente causam perdas em torno de US$ 1 trilhão (um trilhão de dólares) na economia global, e reitera que a cada US$1 (um dólar) se investidos no bem estar mental, US$ 4 (quatro dólares) são revertidos em ganhos com o aumento de colaboradores mais saudáveis.

Uma pesquisa indicou que quase 80% dos trabalhadores entrevistados já sofreram algum tipo de estresse no trabalho, e mais da metade já havia se sentido forçado a desistir da sua ocupação. A mesma associou trabalhadores ao aumento do consumo de álcool, drogas e violência doméstica como reagentes da infelicidade profissional do trabalhador.

Embora a saúde mental ainda seja vista como um tabu por muitos, há um aumento de esforços da parte dos empregadores em ações educativas e efetivas de prevenção e tratamento, todavia, ainda quase um quarto de colaboradores se afastam, temporária ou definitivamente do trabalho por adoecimento mental.

Sigmund Freud, fundador da psicanálise, certa vez disse que um dos êxitos da análise seria ajudar a pessoa resgatar sua capacidade de amar e trabalhar, do ser humano alinhar seus desejos às exigências do mundo, e que isso implica em modos de relações e comprometimento mais saudáveis e associados à realização pessoal, como por exemplo, achar um amor e um tralhalho que satisfaça. Outro célebre psicanalista britânico chamado Winnicott alega que o brincar da criança é o que a torna mais próxima de sua essência, e neste caso, o trabalho dos adultos deveria ser vivenciado como no brincar, ou seja, como uma experiência onde também se pudesse se sentir em paz consigo mesmo.

Aos trabalhadores brasileiros (e não importa se são colaboradores ou empregadores), um feliz dia do trabalho, mas se a infelicidade e o sofrimento emocional bate à porta da vida profissional, talvez seja o momento de repensar esta trajetória e buscar ajuda, análise pode ser um bom caminho. Como cantou o sambista bahiano Batatinha (1924-1997)  na canção ‘O inventor do trabalho’, “...o trabalho dá trabalho demais, mas sem ele não se pode viver...”
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