09/09/2021 às 20h18min - Atualizada em 09/09/2021 às 20h18min

​Pesquisa de professora da UENP potencializa controle biológico da Ferrugem Asiática da Soja

Doença causada por fungo é considerada a principal praga que incide na cultura da soja brasileira

Assessoria UENP
Assessoria UENP
A soja é a principal commodity brasileira. Somente na safra 2020/21, o Brasil deverá alcançar a produção de 268,9 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas os dados animadores são sempre acompanhados de muita preocupação pelos sojicultores que convivem ainda com a temida doença Ferrugem Asiática da Soja (FAS), que pode causar perdas de 30% a 90% da produção, dependendo das condições ambientais e do manejo que se dá à cultura, relata a professora do mestrado em Agronomia da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Mayra Costa da Cruz Gallo de Carvalho. À frente de uma pesquisa para controle biológico da doença, a pesquisadora isolou o fungo colonizador de lesões da ferrugem da soja e identificou formas de uso no biocontrole da doença.

As condições climáticas são fundamentais nas epidemias de FAS, uma vez que as chuvas bem distribuídas ao longo da safra favorecem o rápido desenvolvimento da doença e quanto mais tarde a doença chega menores podem ser os danos à produção. “As perdas em decorrência da FAS foram brutalmente controladas com o emprego de fungicidas químicos, mas desde as safras de 2003/2004 esse controle tem sido menos efetivo, em função da evolução da resistência a campo com consequente queda de eficiência dos químicos. Hoje não se consegue controlar da mesma forma que antes a ferrugem com os químicos disponíveis, temos uma porcentagem de controle que fica entre 40 e 70%”, aponta Mayra. Além disso, o uso de químicos vem sendo cada vez mais questionado pela sociedade como um todo por razões ligadas à saúde humana e ambiental.

O fungo identificado como agente de biocontrole da FAS pertence a um gênero de fungos que atua como promotores de crescimento em plantas e com habilidades de proteção do vegetal contra uma variedade de doenças. No entanto, essa é a primeira vez que o gênero é apontado como agente de controle da ferrugem o que possibilitou o depósito de um pedido de patente.  Através da pesquisa desenvolvida na UENP, foi feita a identificação de microrganismo que naturalmente ocorre nas lesões da FAS, o microrganismo foi isolado, multiplicado e testado de forma in vitro, e in vivo em experimentos em casa de vegetação e em duas safras a campo. “Obtivemos como resultado um bom controle da severidade da doença na pulverização preventiva do agente de biocontrole”, explica a professora. 

Os métodos desenvolvidos pela pesquisa caracterizam-se pelo uso do biocontrole de forma preventiva, antes da infecção inicial da FAS, porém uma eficiência maior deverá ser alcançada com mais aplicações. A professora explica que a ferrugem é uma doença policíclica, inicia um novo ciclo a cada 8 ou 10 dias, então a prevenção pode ser pensada também a cada ciclo de esporulação. “Agora estamos testando um número maior de aplicações no campo. Nos dois primeiros testes a campo foi realizado uma única aplicação, de forma preventiva a chegada da doença, que resultou em controles positivos de até 30%. Agora temos ensaios no campo onde vamos aumentar o número de aplicações. Assim como se faz com fungicida, será aplicado de duas até quatro vezes, para ver se aumenta a eficiência”. Nesse momento, estamos também com uma parceria firmada com a empresa Leaf Agro para aumento da eficiência do produto e testes de registro.

Para a pesquisadora, um achado relevante da pesquisa é que um dos métodos desenvolvidos requer a pulverização da suspensão de esporos do fungo, mas a pulverização apenas do meio líquido de crescimento do fungo, livre de qualquer estrutura dele, apresenta também resultados significativos no controle da doença. Ensaios conduzidos a campo, em associação dos métodos de biocontrole ao uso de fungicidas químicos convencionais, mostraram ainda que o fungo coloniza as lesões de ferrugem mesmo após aplicação dos fungicidas, o que é importante para uma possível integração do biocontrole às práticas de manejo da FAS.

A princípio, segundo Mayra, as descobertas trazem dois benefícios para a agricultura. Um é a potencialidade de uso como controle biológico na agricultura orgânica. O segundo benefício é a possibilidade de integrar o agente biológico ao manejo da cultura já realizado.

A pesquisa ainda está em andamento, o grupo está desenvolvendo outros projetos relacionados, como a investigação por microscopia eletrônica, para poder identificar se há interação direta ou não do agente causador da ferrugem da soja Phakopsora pachyrhizi e o isolado. Como o isolado obtido também mostrou atividade inibitória sobre a ferrugem apenas quando seus metabólitos foram pulverizados, a pesquisa também pretende a identificação dos metabólitos produzidos pelo microrganismo, para saber se é algo já conhecido ou novo. “A pesquisa teve início em 2017 com a acadêmica bolsista de PIBIC, Larissa de Assis Carretts, e continuou com outros estudantes, inclusive um estudante de mestrado, Everson Pedro Zeny. Atualmente, com a parceria estabelecida via AITEC, esperamos em breve ter um produto pronto para o mercado”, conclui a pesquisadora.

Pesquisa premiada

A pesquisa desenvolvida pela professora Mayra Gallo recebeu prêmio no Programa de Apoio à Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime), do Governo do Paraná, por meio da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.


O Prime tem foco na transformação do resultado de pesquisas acadêmicas em produtos com potencial de mercado, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do Paraná. A professora Mayra conquistou o terceiro lugar entre os cinco finalistas, com o “Bio-HiJAck, fungicida biológico para combater a ferrugem-asiática”, conhecida como doença da soja.

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