14/12/2022 às 09h38min - Atualizada em 14/12/2022 às 09h38min

​Alunos protestam contra demissão de professores do curso de Odontologia da Uenp

Notícia de que oito dos 22 professores do curso de odonto da Uenp não teriam seus contratos renovados revoltou alunos e colocou profissionais em situação difícil

Gladys Santoro Biaggioni - Tá No Site
Gladys Santoro Biaggioni - Tá No Site
A Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) enfrentou um protesto de estudantes nesta terça-feira (13), inclusive com abaixo-assinado contra uma possível não renovação de contrato de oito dos 22 professores do curso de Odontologia, que funciona em Jacarezinho. A informação ainda não foi confirmada pela Universidade.  

Em protesto, os alunos se vestiram de preto e foram para frente do prédio onde funciona o curso. Eles também elaboraram um abaixo-assinado pedindo o afastamento de uma coordenadora, que no entender deles, entre outras coisas, tem praticado assédio moral contra alunos e também seria a mentora do desligamento dos oitos professores.

No saguão de entrada da faculdade, os manifestantes colaram cartazes. Alguns deles diziam: “Não mexa com meu orientador”. “Explicações Já”, “Não às demissões”, entre outros.

Prejuízos até para a população - Por conta da Pandemia, o curso de Odontologia está acontecendo dentro de um calendário específico, onde o ano letivo só termina em abril de 2023, mas o rompimento dos contratos deve acontecer ainda este mês, o que desorganizaria todo o restante do ano. Dentre os docentes que devem ser desligados, estão professores que atendem nas clínicas, o que causaria um prejuízo inestimável aos estudantes e também à população atendida nos consultórios (moradores de municípios da abrangência da 19ª Regional de Saúde). O atendimento ao público por alunos só pode ser feito sob supervisão de professores.

Desabafo – Um dos professores envolvidos na demissão explicou que embora a faculdade seja pública, a maioria dos profissionais tem contrato por meio de um regime especial, que pode ser renovado a cada dois anos, por esse motivo, o corpo docente não trata o assunto como demissão e sim Não Renovação de Contrato. “Por motivos unilaterais e sem explicações ou orientações, a coordenação vai fazer um desmonte sugerindo uma demissão em massa, de mais de um terço dos profissionais, bem no meio do ano letivo. O nosso calendário está atrasado por causa da pandemia, portanto, o ano letivo só termina em abril”, explicou. “A questão é o prejuízo que esses desligamentos causarão aos alunos. Eles têm que ter orientação do trabalho de conclusão de curso, muitos vão perder os orientadores. Temos a clínica integrada que promove atendimento à comunidade da região. Até os pacientes serão prejudicados”, comentou.

O professor também disse que até o momento a reitoria não se manifestou. “Não deram nenhuma justificativa, e não podem alegar falta de recursos porque há uma resolução que não permite que um curso de odontologia tenha tão poucos professores, as atividades clinicas tem que ter um professor para cada 10 alunos. Não tem uma alegação, justificativa para as demissões ou uma proposta pedagógica para esses alunos, como, por exemplo, de trazer novas possibilidades”, contou.

Outra professora resumiu: “Está sendo cruel. O Estatuto prevê a renovação ou não do contrato, mas tem que ser discutido com o corpo docente”, concluiu.

Reunião, leitura de abaixo-assinado e votação

Por volta das 14h, professores se reuniram a portas fechadas com alguns diretores e coordenadores e leram um abaixo-assinado onde relatam vários problemas encontrados junto à coordenadoria do curso e coordenadoria de estágios, como descumprimento de regulamentos, humilhações, e até mesmo uma orquestração para que os contratos de oitos dos 22 professores não fossem renovados. Por volta das 15 horas, a reunião aprovou o abaixo-assinado, que ficou de ser entregue à reitoria da Universidade.

Alunos se manifestam

Alguns estudantes enviaram à redação do Portal Tá No Site mensagens sobre o que pensam dos acontecimentos atuais. Veja abaixo:   

Matheus Fiorini, aluno do 4º ano: “Eu, como estudante e quase finalizando o curso, vejo um prejuízo pedagógico inenarrável. As baixas serão de professores intimamente envolvidos com vários processos acadêmicos, desde a orientação de TCC; projetos de pesquisa/extensão; orientação clínica e processos de aprendizado de variadas disciplinas. O pior de tudo é ficar a “ver navios”: não sabemos as justificativas e circunstâncias que motivaram tais ações. O sentimento geral é de revolta e impotência, precisamos mudar a situação”.

Angelina Imai – aluna do 4º: “Uma situação, por enquanto, inexplicável e incoerente com o processo de ensino e aprendizagem pelas grandes perdas que essas demissões poderão causar, me revolta ver o prejuízo na educação de decisões infundadas”.

Micael Cadari, aluno do 4º ano: “A falta de discernimento e coletividade dessa e outras situações que vem ocorrendo me entristecem muito. Servidores de uma universidade pública, que deveriam trabalhar em conjunto para somar, principalmente aos alunos, acabam por fazer justamente o contrário. É lamentável a perda que teremos caso aconteça essa injusta demissão em massa”.

Ana Flavia Shimizu - aluna do 4º ano: “Eu como aluna, vejo uma tribulação enigmática com o ensino! Essas demissões causam grandes revoltas em nós alunos, pois teremos grandes perdas e prejuízo para a Universidade e nós alunos!”.

Marcelino Pedroti – aluno do 4º ano: “Assim como algumas outras coisas que também acontecem no curso de odontologia da UENP, isso é inconcebível. Mais um episódio de horror completamente infundado, que revela nada além do que a má índole e a mesquinharia daqueles que arquitetam essas demissões. Se esse absurdo se concretizar, a graduação em odontologia sofrerá perdas irreparáveis, prejuízos a todos os alunos (sobretudo aos que estão no 4⁰ e 5⁰ ano) e um grande desfalque ao corpo docente da Universidade, pois esses professores são de grande valia, desenvolvem ótimas orientações não apenas de TCC mas também em clínica e em projetos de pesquisa e extensão”.

João Jacob Morosini, aluno do 4º: “É inaceitável o que está acontecendo no colegiado do curso! O atual corpo docente tem trazido melhorias ao processo de aprendizagem dos estudantes, tanto em aulas teóricas quanto em aulas práticas. Necessitamos destes para sermos profissionais de qualidade! Os acadêmicos do curso de odontologia da UENP merecem explicações por tais demissões em massa”.

Diretor – No final da tarde, o diretor do Centro de Ciências Odontológicas, Fabrício Jassi retornou o contato com a redação do Portal Tá No Site. Ele não confirmou as demissões oficialmente, mas disse que sabe que existe um processo nesse sentido em tramitação e deixou claro que é contra as demissões, mesmo porque ainda não há nada que as justifiquem e também da maneira que estão sendo realizadas: de surpresa.

Segundo ele, todo final de ano é normal a revisão de contratos e quando há alguma sugestão de não renovação, a medida, obrigatoriamente, passaria por ele, porém, desde o ano passado, há uma clausula no regulamento que diz que no caso de o diretor ter parentes no quadro de funcionários, ele não pode decidir. “No meu caso, minha esposa também trabalha aqui, então, o processo de renovação ou não contratos sequer passou pelas minhas mãos”, explicou contando que participou da reunião com os professores na tarde de hoje.

O diretor também lamentou a época em que o fato está ocorrendo. “Estamos no fim do ano. Não do ano letivo, porque o nosso vai terminar somente em abril, mas esse período, em que as pessoas estão fazendo planos. Também me preocupa a situação dos alunos e dos pacientes das clinicas odontológicas. Todos serão prejudicados”, disse.

O diretor Fabricio reafirmou que desconhece os motivos das demissões de professores.

Sem contato – Até o fechamento dessa matéria, a redação do Portal Tá No Site não obteve retorno de uma das coordenadoras citadas no abaixo-assinado dos professores, procurada pela reportagem.

O Portal Tá No Site se mantém aberto para ouvir a Universidade, por meio da reitoria, e também as coordenadoras. 

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