15/02/2023 às 09h42min - Atualizada em 15/02/2023 às 09h42min

​Ex-aluno indígena de Pedagogia da UENP assume direção da escola Cacique Kanhgrén

Tiago Mãfár, formado em Pedagogia pelo Campus de Cornélio Procópio, assume direção de escola indígena com 76 alunos atualmente

Assessoria
Divulgação
Formado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus de Cornélio Procópio, o pedagogo Tiago Mãfár de Souza Nogueira, assumiu a direção da Escola Estadual Indígena Cacique Onofre Kanhgrén, localizada na Terra Indígena Barão de Antonina – Paraná.

A escola indígena tem, atualmente, 76 alunos matriculados e atende desde a educação infantil até o final do ensino fundamental. Tiago trabalha na escola desde 2018. “Para trabalhar na escola indígena, é necessário ter uma autorização, a carta de anuência do Cacique, da liderança. Depois de me formar, comecei a atuar aqui na escola como coordenador pedagógico. No fim do mês passado, fui indicado pelo Cacique para assumir a direção da escola”, disse.

Como diretor da escola, Tiago planeja dar continuidade aos trabalhos que já vem sendo realizados. “Pretendo trazer o ensino médio para dentro da aldeia. Também quero buscar mais trabalhos voltados à cultura, além de trazer materiais que possam agregar para os professores e alunos e mais parcerias para a nossa escola”.

Tiago conta que a escola tem um grande enfoque para a cultura Kanhgrén. Ele destaca dois eventos que a escola realiza ao longo do ano e que ajudam a manter viva a cultura da aldeia: a Semana Cultural, realizada na semana do Dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, que é somente para a comunidade escolar, em que trabalham tudo que diz respeito a cultura indígena; e a Festa do Emi, realizada em outubro, aberta para toda a comunidade, em que apresentam tudo que é elaborado na escola, além de danças, venda de artesanato, comidas típicas, palestras, jogos indígenas e outras atividades.

Graduação na UENP

Formado em 2017, Tiago revela que a UENP foi como uma casa para ele durante o período em que estudou. “Aprendi muitas coisas com os meus colegas. Foi uma ótima experiência. Também tive ótimos professores, como o Luiz Antônio, que foi meu orientador, e a professora Roberta Negrão. A Universidade não te ensina a ser professor, pedagogo ou diretor, isso aprendemos com a prática, mas ensina a questão teórica, onde você pode buscar conhecimento, onde podemos nos aprimorar mais. Eu só tenho a agradecer! Agora, tenho o desejo de voltar para a UENP e cursar o mestrado”, partilha.

De acordo com ele, para os indígenas, a experiência de cursar a universidade é desafiadora. “A sensação que todos os indígenas têm quando chega à universidade é de que caiu de paraquedas, pois é um ambiente novo, é algo que não estamos acostumados, são culturas diferentes. Nós levamos um choque. Além do que o povo indígena é mais tímido e, durante o curso, precisamos ter muitos posicionamentos”, relembra.

Para os indígenas que tem o sonho de cursar uma faculdade, Tiago deixa um recado. “Façam a inscrição. Por meio da educação, do conhecimento, você chega longe. Uma frase que eu uso muito é: ‘podem tirar tudo da gente, menos o conhecimento que conquistamos’. Antigamente, nós, povos indígenas, lutávamos com arco e flecha e agora lutamos com papel, caneta e a tecnologia disponível pra gente. O conselho que eu deixo é que o aluno seja um guerreiro para vencer, se formar e poder dar retorno para sua terra indígena, porque nosso povo precisa”, finalizou.

O professor Luiz Antônio de Oliveira, coordenador do curso de Pedagogia da UENP, elogiou a trajetória de Tiago na graduação. “O Tiago Mafar conseguiu romper com esse desequilibro que eu identifico e prosseguiu na sua formação aqui no curso com muita competência, com muita dedicação, com muita qualidade e a gente também conseguiu estabelecer essa relação de entender os seus processos do pensar, do agir, e fizemos essa parceria riquíssima com esse menino”, recordou Luiz Antônio.

A diretora do Campus de Cornélio Procópio, professora Vanderléia da Silva Oliveira, manifestou orgulho pela realização do aluno e pela formação ofertada pelos cursos da UENP aos povos indígenas. “A Universidade cumpre seu papel de inclusão social e valorização das conquistas votadas às políticas de ações afirmativas, garantindo o acesso à educação superior pública de qualidade".

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