26/04/2023 às 12h07min - Atualizada em 26/04/2023 às 12h07min

​UENP forma primeira turma com alunos cotistas em Direito

A implantação da política de Ações Afirmativas na forma de cotas sociais e raciais foi aprovada em junho de 2017 pelo Conselho Universitário e pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

Assessoria
Assessoria
Concluir um curso superior é sempre marcante na vida de um aluno, mas para 21 estudantes da turma 51 de Direito da Universidade Estadual do Norte do Paraná, esse foi um momento ainda mais especial. Eles foram os primeiros acadêmicos de Direito a se formarem na graduação e a ingressar na UENP por meio do Sistema de Cotas. A colação de grau do curso ocorreu neste mês de abril, em Jacarezinho.

A recém-formada Gabriella da Mata Facco Queiroz partilha o sentimento ao fazer parte dessa história. “Foi nítida a diferença entre a minha sala, primeira cotista, e as demais sem a política de cotas. A pluralidade de cores, origens e histórias dos alunos da Turma 51 foi a primeira a ser tão diversa”, analisou. “Ocupar esse espaço de tanto prestígio, principalmente, enquanto cotista, me fez sentir orgulho em ser aluna de Direito da UENP”, disse.

Gabriella se sentiu muito entusiasmada em alcançar o sonho de se tornar estudante de Direito, partilhou. “Foi uma nova realidade para mim, trouxe novos rumos para a minha vida”. Ela conta que exemplos de professores e alunos egressos atuantes em diferentes carreiras a inspiraram a estudar e se dedicar durante a graduação. “Com essa experiência, sinto que, além de receber um ensino de qualidade, a Universidade me orientou a me tornar uma profissional comprometida com a justiça social e pensamento crítico”, afirmou.

A acadêmica Fernanda de Souza Paula destaca que os sentimentos ao ingressar na Universidade foram confusos. “Foi uma mistura de medo e êxtase, primeiro porque tudo que é novo causa um certo temor, acompanhado de muitas dúvidas”, recordou. “E o sentimento de êxtase, de realização por estar num curso que eu queria, que havia idealizado por muito e ainda na Universidade que era o meu sonho”, partilhou.

Fernanda conta que, quando mais nova, passava em frente do Fórum de sua cidade, olhava para o local com admiração e sonhava estar ali um dia. “Eu consegui chegar nesse espaço”, comemora. Ela realizou estágio no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná durante a graduação na UENP. “Me senti realizada por estar ali, entrando pela porta da frente. Uma mulher preta, pobre, que sonhava estar, trabalhar e aprender ali”, disse. Fernando conta que a experiência foi muito gratificante, “me deu uma sensação de que consigo chegar a outros lugares, foi assim na UENP, foi assim no TJPR, sempre essa sensação de estar conquistando espaços”.

De acordo com o professor Renato Bernardi, o curso de Direito tem passado por mudanças significativas em relação à diversidade e inclusão desde a implementação das cotas. A presença de estudantes de diferentes origens e trajetórias tem enriquecido o ambiente acadêmico e estimulado o debate sobre questões de justiça social e direitos humanos, acentua o professor. “Com as cotas, a diversidade étnica e socioeconômica aumentou significativamente, o que tem impactado positivamente a dinâmica das salas de aula e a qualidade do ensino. A presença de estudantes que representam diferentes realidades e perspectivas enriquece o debate e estimula o pensamento crítico”, aponta.

A implantação da política de Ações Afirmativas na forma de cotas sociais e raciais para os cursos de graduação da Instituição foi aprovada em junho de 2017 pelo Conselho Universitário (Consuni) e pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UENP. Segundo Bernadi, as ações afirmativas têm um papel crucial na democratização do acesso ao ensino superior. “As cotas buscam corrigir desigualdades históricas que têm sido perpetuadas ao longo do tempo, aumentam as chances de acesso ao ensino superior para aqueles que tradicionalmente têm sido marginalizados. Isso pode ajudar a aumentar a diversidade e a representatividade nas universidades, o que é fundamental para construir uma sociedade mais justa e inclusiva”, frisa.

“Além disso, as cotas podem ajudar a promover a equidade educacional, fornecendo a estudantes de baixa renda ou de escolas públicas com recursos limitados uma oportunidade de acesso a universidades de qualidade. Com a oportunidade de estudar em uma instituição de ensino superior de qualidade, os estudantes cotistas têm a chance de melhorar suas habilidades e competências e, posteriormente, contribuir para o desenvolvimento do país”, destaca o professor.

Pesquisa

O acadêmico Thiérry Willian de Moura Coelho é da segunda turma de cotistas do curso de Direito da UENP. Ele desenvolve uma pesquisa sobre rendimento acadêmico, a qual aponta que o desempenho do aluno ingressante na Universidade através do Sistema de Cotas é similar ao do aluno não cotista. O estudo tem o intuito de demonstrar à comunidade universitária e externa que as cotas são importantes e que devem continuar. “A pesquisa que desenvolvemos tem o condão de demonstrar que os alunos cotistas conquistaram um espaço importante no ensino superior e nele vão permanecer, este repleto de produção científica, que é o marco principal da universidade pública”, destaca Thiérry.

Para Fernanda, as ações afirmativas são indispensáveis. Ela acentua que as cotas surgem como uma das formas de possibilitar o acesso igualitário ao ensino superior público e de qualidade para os estudantes de escolas públicas, negros e pobres, que, em grande maioria e de outra forma, não conseguiriam acessar esses locais. “Sabemos da importância da educação e dos impactos que ela produz e pode produzir na nossa vida e realidade”, pontua.

Para Bernardi, as cotas têm contribuído para a formação de profissionais mais comprometidos com a defesa dos direitos humanos e com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. “Os estudantes cotistas têm tido a oportunidade de se engajar em projetos de extensão e pesquisa que abordam temas relevantes para as populações historicamente marginalizadas e excluídas. A implementação das cotas tem gerado discussões e reflexões sobre a democratização do acesso à educação superior e sobre as desigualdades históricas que ainda marcam a sociedade brasileira. Isso tem levado a uma maior conscientização sobre a importância da diversidade e da inclusão nos espaços de ensino e pesquisa, e tem estimulado a busca por soluções mais amplas e efetivas para promover a igualdade de oportunidades”, conclui.

Conquista familiar

Assim como muitos dos formandos, Gabriella é a primeira pessoa da família a se formar no ensino superior. “A minha chegada e agora conclusão do curso de Direito em uma universidade pública tão renomada é uma conquista e um sonho compartilhado por mim e minha família”, partilha. Gabriella comenta que isso representa um esforço de sua família para proporcionar a ela uma boa educação. “Valeu a pena! Após muitos sacrifícios, o resultado chegou e estamos muito felizes por isso”, comemora Gabriella.

“Sou a primeira da família a ingressar na Universidade. Isso representa uma grande conquista, não só para mim, mas para os meus familiares também, tendo em vista as nossas origens. Meus pais são lavradores, sempre trabalharam pesado e sempre me ensinaram o valor e a necessidade da educação, porque ela é capaz de transformar realidades, de mudar vidas e de criar novos cenários. Através dela, será possível oferecer uma vida melhor aos meus pais, que tantos esforços e sacrifícios fizeram para me criar”, celebrou Fernanda.

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