03/07/2023 às 16h06min - Atualizada em 03/07/2023 às 16h06min

​Projeto da UENP analisa zoonoses emergentes relacionadas ao javali na Mata São Francisco

Assessoria
Assessoria
Com o objetivo de identificar doenças infecciosas resultantes da presença de javalis na Mata São Francisco e fazer o controle da população da espécie no local, o projeto de pesquisa “Avaliação do risco de zoonoses emergentes, derivadas da invasão biológica de Javali, ao Parque Estadual Mata São Francisco”, da Universidade Estadual do Norte do Paraná, capturou 43 javalis em um ano. A invasão da espécie representa um risco ambiental, econômico e à saúde pública.

Desenvolvido por professores e alunos do Campus Luiz Meneghel da UENP, o projeto busca avaliar se esses javalis atuam como reservatórios de doenças, além de propor estratégias que auxiliem o monitoramento do risco de dispersão das doenças, bem como soluções de manejo para o controle populacional na Unidade de Conservação (PEMSF).

O Javali apresenta altas taxas reprodutivas, rápido crescimento populacional e baixa predação, além de gerar híbrido férteis, o javaporco, no cruzamento com porcos domésticos. Ambos estão entre as 100 espécies exóticas, invasoras, com maior potencial de dano ambiental e econômico no mundo, além de serem responsáveis por causar prejuízos à flora nativa, atacar e abater espécies nativas, causar impacto nas lavouras e de atuar como reservatório para diversas zoonoses. O risco apresentado ainda se amplia pela interação do javali com morcegos hematófagos (vetor da doença).

“O projeto começou com a intenção de controlar a população de javali e liberar o Parque para visitação. Quando estávamos construindo as armadilhas, uma das câmeras instaladas registrou um javali passando e um morcego hematófago se alimentando de seu sangue. Com isso, percebemos uma correlação entre o aumento da população de javali com o aumento da de morcegos, o que é muito problemático, pois ao redor temos produtores rurais que criam animais e os morcegos podem ir até lá se alimentar e assim transmitir raiva ou outras doenças”, explica o coordenador do projeto, Marco Antonio Zanoni.

Todas as armadilhas e procedimentos realizados pelo projeto seguem as normas e recomendações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Para realizar o monitoramento, são utilizadas 8 câmeras TRAP distribuídas pela Mata São Francisco e são 15 armadilhas de madeira espalhadas no entorno da mata.

De acordo com o professor Diego Resende Rodrigues, as câmeras servem para realizar a estimativa populacional do javali e como ele se distribui dentro da mata. “Dificilmente conseguiríamos fazer o controle dentro dos 840 hectares da mata, com a estimativa populacional sabemos onde estão em maior quantidade e fazemos uma estratégia direcionada para aquele local. Para cada ponto de câmera, realizamos uma avaliação ecológica rápida para ver se existe uma relação de áreas que são melhores que outras e se isso está relacionado a presença do animal ali. Tudo isso permite que façamos estratégias direcionadas e mais eficazes para o controle da espécie”, explica.

Após a captura dos javalis e dos javaporcos, o projeto coleta material para diagnóstico das diversas possibilidades de zoonoses. Os professores que participam da pesquisa realizam exames para detectar parasitas como o da raiva, a t-cruzi (trypanosoma cruzi), hemoparasitas, leptospirose, criptosporidiose e enteroparasitas. Entre as doenças que o contato com javalis ou javaporcos podem causar, estão as infecções crônicas, de difícil tratamento ou até fatais a humanos.

“Até o momento, as análises indicaram que 100% dos animais capturados estavam parasitados, com algum parasita intestinal (enteroparasitas). Também encontramos necropsias parasitas no pulmão e rim dos animais e agora estamos realizando as pesquisas para saber se são zoonóticos”, apontou o professor Flávio Haragushiku Otomura.

Além do javali e do javaporco, as câmeras do projeto também já registraram a presença de algumas espécies, como a Onça Parda, Jaguatirica, Tatu-galinha, Paca, Cutia, Irara, Gato do mato pequeno, Mão pelada, capivara, Gambá de orelha-branca e o Tamanduá-mirim.

O coordenador do projeto destaca a importância do trabalho colaborativo para que os resultados aconteçam. “Eu acabo ficando mais com o gerenciamento do projeto. Então a participação dos demais professores é fundamental para que tudo aconteça. O caráter interdisciplinar do projeto demonstra justamente o que é a questão da saúde única, trabalhando em conjunto a saúde ambiental, animal e humana”, frisou Marco Antonio.

Além dos professores Marco Antonio, Diego e Flávio, também participam do projeto de pesquisa os docentes da UENP Francielle Gibson da Silva Zacarias, Luciane Holsback Silveira Fertonani, Liza Ogawa e Matheus Pires Rincão. O projeto faz parte do programa de Saúde Única, do Governo do Paraná, desenvolvido pelas secretarias do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Dentre os parceiros do projeto estão o Instituto Água e Terra (IAT), o Laboratório de Leptospirose da Universidade Estadual de Londrina, o laboratório de Virologia Veterinária da Universidade Federal do Paraná – Palotina e os professores Jean Max, da Universidade Estadual de Maringá, e Rafael Vieira da UFPR.

Link
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp