13/06/2022 às 18h35min - Atualizada em 13/06/2022 às 18h22min

POR QUE EXISTEM PESSOAS PRESUNÇOSAS?

E que atire a primeira pedra quem nunca ...

Marcelo Moya

Marcelo Moya

Psicanalista, membro do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise.

 *Marcelo Moya

Dizem que certa vez perguntaram para Santo Agostinho quais seriam as três grandes virtudes de um homem, e ele respondeu: a humildade, a humildade e a humildade. Para Confúcio, a humildade é a única base sólida de todas as virtudes. Há um provérbio bíblico que considera a humildade um antecedente à honra, e a altivez de espírito à queda.

Quem nunca se deparou ou conviveu com sujeitos de conduta presunçosa, altiva, orgulhosa, arrogante, que olha para os outros de alto a baixo com desdém, vangloria-se a fim de diminuir os demais, julga pela aparência, vestimenta, status, condição social ou intelectual, e que infelizmente acaba despertando sentimentos destrutivos que atingem a autoestima das pessoas?

A história da civilização testemunha a queda de nações inteiras como consequência da imodéstia de um povo e seus governantes. Relacionamentos são arruinados, amizades desfeitas, pessoas se distanciam, crimes acontecem protagonizados por personalidades de caráter maculado de empáfia e jactância.

Mas afinal, o que pode levar alguém a ser desse jeito? Certamente, suposições não faltam e sequer caberiam nesta breve reflexão. Mas podemos pensar isso por alguns parâmetros psicanalíticos, sem incorrer evidentemente na tentação de juízo alheio, algo que os presunçosos já fazem com maior maestria.

Tais pessoas são dominadas por uma inveja que corrobora com um tipo de defesa egoísta narcísica. Como na história da serpente que perseguia um vaga-lume, quando este decide indagar a predadora sobre o motivo daquela caça (sequer ele pertencia à sua cadeia alimentar), a víbora responde ao vaga-lume que não suportava ver um inseto como ele brilhar.

Um outro aspecto pode se justificar por um movimento psíquico projetivo de nossas imperfeições, e que rejeitadas em nós mesmos, são fantasiosamente imaginadas na outra pessoa para serem desprezadas, odiadas, subestimando-a a partir do intolerável de si.

A pedância destes seres serve como reagente de suas inseguranças, frustrações, traumas, fracassos e idealizações. Por exemplo, nos cobramos demasiadamente almejando um grau de perfeccionismo inatingível e achamos que este alvo idealizado está no outro, e por esta razão passamos a refutá-lo, desprezá-lo, diminuí-lo, afinal, o quê e porquê aquele tem ou é o que eu não tenho ou sou.

E quanto aos que se escondem por detrás de uma falsa modéstia, revestem-se de uma humildade mascarada, superficial, apegando-se às caridades e à religião com a finalidade de sublimar suas sádicas pretensões, ou ainda para tentar abrandar a culpa, o mais masoquista dos sentimentos?

E citando novamente Agostinho, “a humildade deveria ser proporcional à grandeza de cada um, quanto mais alto alguém se encontra, tanto mais pode ser fatal sua queda, pois, a soberba exila o homem de si mesmo; a humildade o devolve à sua intimidade, os que às custas de alardear a própria inteligência, só conseguem pôr em evidência a própria estupidez.”

É provável que indivíduos soberbos se tornem tóxicos, infelizes, medíocres, perigosos, solitários, hipócratas, autoritários, soberanos de si, mas que ninguém suporta, todavia, ocultem suas molésitas, fragilidades, cegueira e as próprias misérias, refugiando-se na ilusão de uma pseuda felicidade.

Podemos aprender com a espiritulidade dos cristãos: “O Criador resiste aos soberbos, mas concede favores aos humildes.” Que os deuses nos perdoem de nossas presunções (atire a primeira pedra quem nunca) e nos façam mais humildes (húmus) para poder florescer o bem em nós, e que análise nos possibilite caminhos de transformações por uma versão melhor de nós mesmos.

Pequenos de espírito precisam querer parecer sempre grandes todo tempo diante dos outros, já os humildes (verdadeiro sinal de grandeza) nunca precisam provar nada prá ninguém. Na medida que medimos, também seremos. Afinal, foi o orgulho que transformou uma legião de anjos em demônios, não foi? 

Como escreveu a poetisa Cora Coralina: “Saber a gente aprende com mestres e livros, sabedoria se aprende com a vida e com os mais humildes”.

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*Marcelo Moya é.... bem, depois do texto acima que diferença isso faz não é mesmo? Mas se alguém quiser saber, acesse: www.marcelomoya.com.br
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