14/08/2022 às 11h06min - Atualizada em 14/08/2022 às 10h54min

QUERO A FELICIDADE NOS OLHOS DE UM PAI

Marcelo Moya

Marcelo Moya

Psicanalista, membro do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise.

*Marcelo Moya
 
"Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai." (Sigmund Freud)
 
Apesar de uma sociedade em constantes transformações e do surgimento de novos modelos familiares, o pai sempre será essencial na vida de todo filho.
 
O debate em torno da ausência ou a inexistência de um pai, ou ainda de uma figura que o substitua, considera a substancialidade positiva dos vínculos paternos nos processos de desenvolvimento da criança.
 
As estatísticas apontam que mais de 70% de jovens e adolescentes em situação às margens da lei cresceram sem a presença ou a referência de um pai, ou este não cumpriu adequadamente o seu papel. 
 
A repetência escolar é duas vezes maior entre crianças em lares sem uma presença paterna, e tem onze vezes mais chances de manifestarem comportamentos violentos na escola ou outros ambientes de convívio.
 
Quando uma criança desfruta da presença afetiva de um pai ou de alguém que exerça com competência este papel, tem maior probabilidade deste menor se sentir mais seguro frente a vida com suas demandas.
 
Por outro lado, é possível que a ausência ou displicência de um pai possa impactar negativamente na vida emocional da criança  como personalidade antissocial, distúrbios de comportamento, agressividade, insegurança, fobias, entre outras. 
 
Partindo de alguns vértices psicanalíticos, elencamos algumas considerações acerca da responsabilidade paternal na formação do indivíduo desde as fases iniciais da vida e tão determinantes na constituição do ser.

Em primeiro lugar, a efetividade partena entra em ação a partir da relação com a mãe, como um parceiro que oferece segurança à genitora, fazendo-a se sentir mais segura e protegida desde a gestação do bebê.
 
Considera-se de que isso vá muito além de um suporte material ou financeiro, embora indispensável, mas o amparo afetivo e acolhedor oferecido pelo pai à mãe do bebê é fundamental, levando-se em conta as complexidades de uma maternidade.

Segundo a psicanalista Melanie Klein (1882-1960), "...o pai desempenha um papel crucial na vida da criança, principalmente se o homem está em harmonia com a sua esposa... muito do que se disse a respeito da relação da mãe e filhos em diversos estágios de desenvolvimento, também se aplica ao pai... ele desempenha um papel diferente da mãe, mas suas atitudes se complementam...",  afirmou.

Outro aspecto, é que através desta conexão afetiva da criança com o seu pai, ela se sinta estimulada para interagir com o mundo ao seu redor e para além de seu vínculo exclusivo e inicial com sua mãe, conectando-se com outras pessoas e passando a compreender as relações sociais.
 
Na medida que ela vai notando a existência deste pai, entenderá que o mundo não gira apenas em torno dela e que a mãe não é sua propriedade e vice-versa, evitando laços unilaterais e destrutivos como a simbiose.
 
Ao reconhecer o núcleo familiar pela distinção das figuras e papéis parentais, a chanches de uma criança ser mais estável emocionalmente e de manter relações mais saudáveis com outras pessoas são maiores.
 
Esta influência do pai impacta no processo da formação da identidade e da autoestima da criança. Se ausente ou inexistente, outros modelos negativos podem ocupar essa lacuna, a exemplo do que ocorre na marginalidade e delinquência.
 
A relação saudável do filho com seu pai ajudará na sua boa autoestima, personalidade, tolerância às frustrações e conflitos, além de consideráveis modelos éticos e morais. E como disse Nietzsche: "...se não se tem um bom pai, é preciso arranjar um".
 
Que o amor, a presença, o apoio, a segurança, o exemplo e o caminho, sejam um dos maiores legados que os papais possam deixar aos seus filhos. Como cantou Milton Nascimento, “...quero a utopia, quero tudo e mais, quero a felicidade nos olhos de um pai...”

Feliz Dia dos Pais!
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* Marcelo Moya é psicanalista, membro docente do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise. WhatsApp: 43.9.9102-6577. Informações: www.linktree.com/marcelomoya
 
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