24/12/2020 às 20h17min - Atualizada em 24/12/2020 às 20h12min

QUE SENTIMENTOS AS FESTAS DE FIM DE ANO DESPERTAM EM VOCÊ?

Um pensar subjetivo em tempos euforia.

Marcelo Moya

Marcelo Moya

Psicanalista, membro do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise.

Pixar Animation | The Walt Disney Company
Marcelo Moya

A vida é repleta de ocasiões e experiências que nos marcam profundamente. Embora em condições bastante adversas como as que estamos vivendo em razão da pandemia, adentramos num mês festivo e de muitos significados, haja vista, o mundo ocidental comemora o natal e a passagem para o novo ano. Mas afinal, que sentimentos este período de festividades despertam em você? 

Concebidas normalmente em elevado clima de euforia, em alguns casos até de maneira exagerada, a celebração natalina com a virada do ano novo normalmente se harmoniza com ideais de felicidade, prosperidade e paz. Para muitos, o importante é deixar tudo de lado e ser feliz por algumas horas regrada a farta comemoração, aliás, marca distinta de nossa cultura e sociedade.

É evidente que o fim de ano produza um clima emocional bastante propício para despertar as mais plurais emoções e sentimentos. Dados apontam, por exemplo, para um elevado índice de pessoas que entram em depressão e de casos de suicídio acentuados pelo controverso clima natalino.

O ambiente festivo de fim de ano é um bom termômetro para suscitar emoções e sentimentos dos mais diversos e díspares tais como alegria e tristeza, saudade e nostalgia, esperança e desilusão, expectativa e frustração, indiferença e compaixão, fé e ceticismo, a lista é incomensurável.

 
"O desempenho das emoções determina a qualidade de vida 
e regula a dinâmica das relações humanas e afetivas..."

Deve-se levar também em consideração aspectos externos que permeiam nosso contexto de vida, se tudo anda bem, obrigado, ficamos felizes para celebrar com a família e amigos, ou se tudo vai mal, ficamos indispostos a festejar e se isolar. Elementos internos, subjetivos, ligados a dimensões mais profundas de nossa existência, de nossa história e de nossa personalidade também são determinantes.

Mas o que são emoções e sentimentos? Segundo o neurologista português Antonio Damásio, emoção é aquilo que nos faz singulares cuja relação se liga aos nossos instintos. A palavra ‘emoção’ da raiz ‘emovere’ tem a ver com movimento e são essenciais à vida. Todo ser humano indistintamente tem emoções e é governado por elas, é a vida em pleno vapor.

Para Paul Ekman, psicoterapeuta norte americano e especialista no estudo de emoções e expressões faciais, emoções são um complexo conjunto de reações químicas e neurológicas com vistas à preservação do organismo voltado para a sobrevivência e possuem um profundo impacto na vida mental. O desempenho das emoções determina a qualidade de vida e regula a dinâmica das relações humanas e afetivas, podendo ser tanto benéfica como também pode causar sérios danos.

Medo, raiva, alegria, tristeza, amor são exemplos de emoções básicas. Opera em nível inconsciente. Diferente do sentimento, que opera no sentido de uma experiência consciente de uma determinada emoção vivida, ou seja, atuam como respostas a uma reação emocional. Se a emoção é algo automático, inconsciente, instintual, impulsivo, ligado ao corpo, por outro lado, o sentimento é a percepção consciente das respostas emocionais e ligado ao pensamento e aos aspectos sensoriais.

"Há muito mais dentro de nós mesmos para além da euforia das comemorações..."

O fim de ano chegou. Há muito mais dentro de nós mesmos para além da euforia das comemorações. Mas será que somos capazes de nominar o que realmente sentimos? Como escreveu a poetisa Adélia Prado, “... ao encontrar palavras para narrar minha angústia já consigo respirar.” Comida e bebida em abundância muitas vezes nos servem à tentativa de sufocar aquelas emoções e sentimentos mais inquietantes e perturbadores como os quais não conseguimos lidar.  

E será que é possível processar o que sentimos? Muitos despertarão no dia seguinte absortos de uma amarga ressaca e de indigesto mal-estar. Tantos recorrerão aos dias posteriores às milagrosas receitas ‘detox‘ para se aliviar dos desagravos. Mas quando falamos de alma, digerir emoções e sentimentos requer uma vida mental amadurecida o suficiente para ressignificar as próprias experiências.

Nominar e apreender sentimentos abrem novos vértices de crescimento e conhecimento nos fará indivíduos melhores, mais plenos, em paz e mentalmente integrados e fortalecidos. Portanto, em qualquer sinal conflituoso com seus sentimentos não hesite em procurar ajuda especializada. A análise, por exemplo, oportuniza um caminho de transformações para pensar e experienciar emoções.

Celebremos as festas, evidentemente com responsabilidade e consciência, mas estejamos atentos aos sentimentos que nos serão despertados nestes dias e que poderão falar muito a respeito de quem e como somos por detrás das euforias. Enquanto comemoramos, façamos uma autoanálise de nossas ações, relações e do que iremos sentir, positiva ou negativamente.

Que tenhamos um fim de ano repleto de fortes emoções, mas sem adoecermos delas.
E como cantou Roberto Carlos, “...se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi...”

Um jubiloso natal e prodigioso novo ano!
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Marcelo Moya
 é Psicanalista, membro do Ékatus Instituto. Docente-facilitador e tutor no programa de formação e de extensão da Escola Paulista de Psicanálise - EPP. Reside em Jacarezinho/PR. Sessões de Análise, Supervisão Clínica, Cursos e Palestras. Mais informações acesse: www.marcelomoya.com.br. 
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