07/03/2021 às 22h25min - Atualizada em 07/03/2022 às 22h11min

MAS AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES?

08 de março: Dia Internacional da Mulher

Marcelo Moya

Marcelo Moya

Psicanalista, membro do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise.

Marcelo Moya*

Afinal, o que querem as mulheres? Tema que até inspirou uma famosa minissérie da TV brasileira, pertence a Sigmund Freud (criador da psicanálise) e foi por ele proferida numa conferência em 1932 onde se discutia exatamente sobre o feminino. Na ocasião, relatava um caso clínico acerca de uma suas analisandas, Marie Bonaparte (sobrinha bisneta de Napoleão). Freud comparou sua paciente a um enigma que não conseguia decifrar: " - a grande pergunta que não foi nunca respondida e que eu não fui capaz ainda de responder, apesar de meus longos anos de pesquisa sobre a alma feminina é, o que quer uma mulher? ", confessou o pai da psicanálise diante de seus ouvintes mais atentos.

...Freud e o feminino...

Nota-se que embora tenha dedicado sua vida estudando o funcionamento mental com seus desdobramentos na cultura e nas relações humanas, além de desenvolver instrumentos para exploração do inconsciente (o desconhecido em nós), o tema do feminino é parte substancial dos tratados de Freud. Criado numa cultura conservadora onde as mulheres se limitavam praticamente a papéis maternais, domésticos e dependentes do cônjuge, foi a partir de seus estudos da histeria e as novas descobertas sobre sexualidade, que Freud iria estabelecer uma sólida relação entre psicanálise e feminino.

As teorias freudianas que serviram como modelos para observar e pensar aspectos mais rudimentares da psiquê e dos estágios iniciais de desenvolvimento e organização da personalidade, apontavam que processos mentais no menino (medo de perder) eram mais simplificados se comparados aos da menina (medo de não ter), estes mais complexos e que despertaram em Freud o interesse pelos temas da feminilidade. 

...não se nasce mulher, torna-se mulher?

Simone de Beauvoir (com quem Freud manteve estreita amizade) cunhou a célebre frase "não se nasce mulher, torna-se mulher" e foi uma das protagonistas da primeira metade do século 20 na profusão do debate sobre o feminino na sociedade e que se ampliava rapidamente no propósito de aliviar as mulheres de sue época da sujeição dos rígidos padrões sociais, morais e religiosos que lhe eram impostas e que as aprisionavam num côncavo do adoecimento neurótico.

Embora por vezes mal compreendido, rotulado de machismo e fortamente criticado pelo fato de como poderia ser possível a um homem versar conhecimentos sobre feminilidade, verdade é que os tratados de Freud de certa maneira foram relevantes para a compreensão e ressignificação do ser mulher e de seu lugar no mundo, empreendendo à tarefa de explorar a alma feminina, e mesmo sem obter muitas respostas, conseguiu ser capaz de estender este debate em níveis mais abrangentes. 

... a modernidade se conjuga no feminino?

A mulher anseia ser livre para desejar, desfrutar do prazer de viver e do viver com prazer. Como afirmou a ativista e psicanalista russa Lou Andreas-Salomé: "Ouse, ouse, ouse tudo, não tenha necessidade de nada, não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém..." Mas também tem a ver com a liberdade de escolher, tempos bem recentes da história atestam que nem isso era possível. E por fim, a liberdade para amar e ser amada. "Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta..." (Milton Nascimento). 

Como escreveu a psicanalista Regina Neri, "a modernidade se conjuga no feminino". Não obstante, se a mulher moderna que por vezes se vê ameaçada pelos totalitarismos da felicidade, do corpo, do consumo, do estético, do casamento feliz, da maternidade ou da carreira bem-sucedida a qualquer custo, é na mulher que deseja, que escolhe e que experiencia o amor o caminho para não adoecer de si mesma. O que passar disso, "deixemos para os poetas", disse Freud. 

E como cantou Eramos Carlos:"Dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda, eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas". 

Feliz Dia Internacional da Mulher!

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Marcelo Moya é psicanalista, membro docente do Instituto Ékatus da Escola Paulista de Psicanálise/SP.  Contatos: (43).9.9102-6577

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