19/07/2023 às 07h23min - Atualizada em 19/07/2023 às 07h16min

Desvalorização da profissão de professor: uma inversão de valores

Fábio Antonio Gabriel

Fábio Antonio Gabriel

Doutor e mestre em Educação pela UEPG. Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia pela PUCPR.

Fábio Antônio Gabriel
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               A contínua desvalorização da profissão docente, que se manifesta não apenas na remuneração aviltante que percebe um professor, se considerarmos que nenhuma outra profissão tem sobre si a responsabilidade de educar, como compete ao professor, que, além de ensinar, deve se dedicar à nobre missão de formar cidadãos; outras carreiras com nível de estudo equivalente são muito, muito mais valorizadas. Se uma família com três filhos pequenos já sente o alvoroço que se forma no lar, que outra profissão se dedica à formação de grupos heterogêneos de 40 crianças para educar? Um professor deve enfrentar deprimentes condições de trabalho, salas de aula em que se amontoam mais de 40 alunos, superlotação que impede a realização de um trabalho com qualidade, o que torna o exercício docente improdutivo e denuncia uma situação incontestável: vivemos uma inversão de valores na sociedade.
               Diante de tal inversão, nos perguntamos que tipo de sociedade o país quer construir. Um país que despende exorbitantes valores para a construção de estádios de futebol, para o que recursos financeiros são fartos, ignorando-se critérios de contenção de gastos, quando se trata de uma pequena reforma em estabelecimento de ensino, cujas dependências permanecem por décadas sem assistência e sem recursos para reformas, em um colégio público em ruínas, a palavra de ordem é que é necessário respeitar a lei da “responsabilidade fiscal”. Nunca existe dinheiro para se investir em educação.
                Mas quem disse que homens públicos encaram educação como investimento? Para eles, dinheiro gasto em educação é dinheiro perdido. Afinal, quem vê, no momento da aplicação, o que esse dinheiro produz em âmbito da educação? Constrói-se um estádio: que construção monumental! Os olhos veem! Investe-se na educação que transforma pequenos seres em seres pensantes: não se vê! E (ironia!) para isso que não se vê, não existe dinheiro mais nobre, dinheiro mais bem aplicado que esse oculto na formação do capital chamado conhecimento, formação!
Por essa resposta que o administrador público cansa de usar quando se trata interesses de uma escola, pode-se avaliar o conceito que a educação pública desperta nos homens públicos em épocas distantes do período eleitoral. 
              A desvalorização da profissão docente não afeta apenas o professor como profissional em sua individualidade, afeta todo o futuro de uma nação, na medida em que, se a carreira docente não é atraente, não atrai os melhores talentos, que disputariam uma vaga em concurso público que acene com salários mais convidativos, e o ensino, cada vez menos valorizado, cada vez mais estigmatizado, já não estimula os jovens a abraçarem essa carreira que, assim, decai, porque não logra despertar a vocação para a missão de educar.
              A educação de qualidade não é favor, não é benesse que o Estado concede ao povo, é um direito lídimo de todo cidadão, é obrigação do estado, do município, é a devolução do pagamento de tantos impostos que todos pagam. O cidadão tem direito a professores bem remunerados e é dever do Estado exigir que os professores sejam dedicados o suficiente para poderem ofertar um ensino de qualidade. Mas indispensável também são os investimentos para a construção de mais estabelecimentos, eliminar a superlotação que cada vez mais se avoluma.
               É necessário repensar valores, e é necessário valorizar os pais, em primeiro lugar. Uma sociedade cujos filhos não honram seus pais é uma sociedade destinada ao caos, porque, sem a instituição familiar, as referências de valor se perdem. É urgente também a revalorização da carreira docente, porque, do contrário, estaremos caminhando rumo a um país que priva seus cidadãos do direito a uma educação digna. Um estudante, se dispõe de conhecimentos sólidos, em troca, transforma-se em um profissional responsável e competente para exercer uma profissão com uma bagagem de conhecimentos tal que pode retribuir à sociedade com um trabalho que os enobrece e os dignifica. São cidadãos que contribuem para o engrandecimento da comunidade em que se inserem. Privando-se os cidadãos do direito a uma educação plena, condena-se o país a formar filhos incompetentes, retroage-se à mais ignominiosa barbárie!

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